quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Bebezinha

Ontem eu estava esperando do lado de fora de uma galeria. O dia estava horrível, nublado, gelado. As pessoas passando na rua também estavam nubladas e geladas. Não sorriam, tinham expressões mau humoradas, rugas de preocupação na testa. Nessas horas começamos a ter aqueles momentos profundos, de pensar no sentido da vida, onde o mundo vai parar desse jeito, com a humanidade cada vez mais insensível, mecânica, etc. Começamos a pensar em como seria bom morar em uma ilha afastada, com bastante dinheiro, pessoas alegres e festas. Sem o peso das preocupações do dia a dia. Desejei com todas as minhas forças poder me livrar daquele desânimo, daquela tristeza de viver naquele ambiente, porque sinceramente, esse jeito de encarar as coisas só torna tudo mais difícil. Olhei para o chão. Pelo menos as formigas pareciam bastante felizes. Apenas trabalhavam sem parar e sem reclamar, com um único motivo de existência. “Quem me dera...”
Nisso, notei que vinha em minha direção uma bebezinha andando com suas pernas longas. Observando melhor, percebi que obviamente a pequena não tinha pernas longas nem andava, mas o seu pai a segurava à sua frente, escondendo a própria cabeça e o tronco, como se realmente quisesse expô-la ao mundo, embora não devesse estar enxergando nada. Ela olhava tudo à sua volta com os olhinhos arregalados, completamente espantada e curiosa. Não pude evitar abrir o mais largo dos sorrisos, já que a coisa que mais gosto no mundo são crianças. O pai que segurava o pequeno troféu notou o meu interesse assim que passou por mim, e, com um sorriso ainda maior que o meu, aproximou-se e colocou a bebê bem pertinho de mim, para eu poder tocá-la. Assim que ela me encarou com suas duas órbitas de vidro, peguei sua pequena mãozinha com meu dedo indicador, que foi segurado firmemente. Continuei sorrindo, mas ainda recebia uma expressão de espanto e curiosidade de volta. Então voltei o meu olhar para o pai, e os dois indivíduos corujas com um objeto de admiração em comum ficaram rindo um para o outro que nem dois palhaços no meio da rua. Seguiu-se então um diálogo mental, que pode ser transcrito mais ou menos assim:

“AAAH QUE BEBEZINHA LINDA!”
“EU SEI, ESSA É A MINHA BEBÊ, OLHA! MINHA FILHINHA! EU SOU O PAI, HEHE!”
“ELA TÁ SEGURANDO A MINHA MÃO, QUE FOFA!!!”
“EU TÔ VENDO! É A MINHA FILHA! MINHA FILHA!”

Depois disso larguei a pequena e deixei o homem livre para exibir seu filhote para outros babões. Passado o estado de êxtase, olhei tudo ao redor novamente. O sol brilhava, o calor emanava das pessoas que sorriam e conversavam alegremente, cada uma com seu próprio motivo de viver e ser feliz. No fim das contas, o mundo não é um lugar tão ruim. Sempre acontece uma coisa que vem e tira o peso das suas costas, pelo menos por alguns instantes. Realmente, é muito mais saudável notar e dar valor para esses pequenos acontecimentos, para termos nossas motivações e ânimo renovados.

Um comentário:

  1. Dois mundos que se encontram e observam.
    Dois mundos que se uniram em um gesto e que se foram e se completam.

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