terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Defina tédio

Dia chuvoso. Sozinho em casa. Maratona de culinária na TV. A internet caiu por causa da chuva. Os livros da biblioteca foram decorados. Você está lutando com todas as suas forças interiores para não ser enredado, mas logo começa a contar os azulejos, apostar qual gota de chuva vai cair mais rápido, brincar com a poeira do chão com o dedão do pé. Tarde demais, você foi pego. Agora vai mofar e apodrecer a sua alma – o TÉDIO te dominou.
Se ainda resiste em acreditar, definamos tédio.
Tédio é diferente de preguiça e é conseqüência de tempestades. A não ser que você seja um vendedor de guarda-chuvas. Tédio é o estado de dormência do ser quando não há nada a ser concluído, assistido, criticado, conversado, comentado. É quando você percebe que a sua vida se resumia a comer, ficar na internet e dormir. No entanto, por causa da maratona de culinária da TV, não quer nem ver comida na sua frente. Sem internet, só lhe resta dormir. Porém, o tédio é tão desesperador e destruidor, que ao deitar, os zumbidos dos fantasmas de todas as atividades que você queria estar realizando não te deixam pregar os olhos. Concluindo, não há escapatória.
Estar entediado é o maior temor do ser humano, que nasceu para estar sempre ocupado com coisas produtivas. Ou pelo menos era para ser desse jeito, mas a evolução nos empurrou para o ciclo comida – internet – dormir. Sendo assim, você fica deitado no sofá da sala de TV, assistindo o chef fazer um mingau de amoras. No mudo, claro. Já consegue sentir o cheiro do bolor emanando cada vez que expira. Ainda luta, enchendo a cabeça com trezentas possibilidades de coisas para fazer. Infelizmente, você não tem um bilboquê, não se arriscaria a andar de patins na calçada escorregadia, não quer jogar xadrez com seus amiguinhos imaginários, que estão dormindo, e muito menos se animaria a sair para comprar amoras e fazer um mingau cor de nuvem de tempestade. Portanto, admita. Entregue-se. Não há mais volta. Está tudo perdido. Nessas horas, você vira escritor. Oh, desespero.

Se ainda não tiver entendido, vá procurar naquele dicionário antigo, com o cheiro da sua alma nesse momento. Talvez ele explique melhor.

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