quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Defina memória

"Ei, psiu!!!"

"... hã?"

"É, você mesmo! Lembra de mim????!!!!"

"Er... você...."

"Aquele dia, na sala de espera do dentista! Hein, lembra? Vaaamos... Aquele dia lá, há duas semanas. A minha consulta era às 14:30. A sua era logo depois. A gente estava conversando e contando piadas para passar o tempo, hehe. Nunca me diverti tanto na vida."

"Desculpe, eu..."

"Eu estava de camisa xadrez e mocassins de couro. Meu cabelo tava penteado pro lado, meio assim, sabe? Lembra? Você segurava uma jaqueta e não largava nem por nada. Sua voz tava meio anasalada, devia estar com gripe. E também tinha um band-aid no seu cotovelo, nem perguntei o porquê. Viu, não esqueci. Tá lembrado? Aí eu contei a piada do pinguim e...."

"Como...?"

É, como? Caro leitor, creio que já tenha passado pela situação. Conversar com alguém sobre determinado assunto, e esse alguém lembrar de coisas e detalhes mínimos que nunca um ser humano (normal) repararia. Pode ser meio constrangedor, mas não se preocupe, porque é muito mais constrangedor para a outra pessoa, que às vezes é até tachada de mentirosa.

Porém, se você se identificou com o outro lado da história, o lado que sempre se lembra de tudo com riqueza de detalhes e se sente constrangido, BEM VINDO AO CLUBE! Eu e você fazemos parte do grupo seleto de indivíduos com a chamada memória fotográfica, e talvez também memória auditiva.
Agora, voltando ao outro caro leitor que não faz parte do nosso grupo e está boiando nesse exato momento, DEFINAMOS "MEMÓRIA".

Memória é uma caixinha de música, que a cada momento toca uma melodia, nem sempre uma boa melodia, e por vezes, toca a mesma que já foi tocada anteriormente. Para fazer essa caixinha funcionar, deve acioná-la girando a manivela, e dependendo do momento e como você gira a manivela, a música irá tocar de maneira diferente, e aí... ah, esquece. A memória é onde ficam guardadas todas as suas vivências, em prateleiras, algumas mais acessíveis do que outras. Por vezes, certas lembranças são tão ruins que você simplesmente esconde e esquece (memória reprimida), mas continuam lá guardadas e podem vir à tona em situações que por algum motivo as acionam.

A memória também é necessária para que você saiba o seu nome, sua localização, o dia do mês, da semana, o que diabos você está fazendo com a chave na mão abrindo a porta da geladeira, e porque você tem a sensação de que já viu a mesma coisa acontecer duas vezes (déja vú).

Mas, como mencionado anteriormente, existe a memória fotográfica, exclusiva de poucas pessoas. Por exemplo, qualquer um lembra que no dia anterior foi à escola e voltou para casa. Já a memória fotográfica, lhe permite lembrar que chegou na escola, cumprimentou o porteiro, olhou no relógio às 7:15, pediu um refrigerante à moça da cantina que, aliás, estava muito bonita com aquela bata preta e brincos combinando, na volta pra casa o semáforo estava com três luzinhas acesas e teve arroz e bife pro almoço.
Nós, o grupo seleto, também temos excelentes notas, porque ao fazer uma prova, temos em mente a página do caderno onde está a matéria, exatamente o que estava escrito e em que posição na folha. Ou seja, pra que estudar? Basta ler o texto uma vez. Rá!

Por mais doce que seja a sensação de controle ao lembrar das coisas, vá aproveitando agora, pois a memória é perdida aos poucos ao longo da vida. O espaço nas prateleiras é limitado. E quando estiver mais velho, vai acordar de manhã, não saber o próprio nome, quase infartar de susto ao ver uma mulher ao seu lado para depois lembrar que é sua esposa e não entender por que a casa está cheia de crianças te chamando de "vô". Mas esse estágio também pode ser temporariamente alcançado, com algumas doses "a mais" de álcool...

E é isso. Paramos por aqui. Se não entendeu, ou se já esqueceu a definição, leia de novo ou procure um dicionário. Ou um médico.

Até a próxima.

PS: Olhe o relógio neste exato momento. Tem certeza de que não está esquecendo nenhum compromisso?

PPS: Eu sei que você olhou. Eu vi. Não olhou? Sem graça.

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